7.16.2009

Espécie de Portugueses...

Grandes feitos, territórios conquistados, um país com grandes nomes, reconhecido pelos seus heróis. Tudo isto resumido agora a um país com cerca de 10 milhões de habitantes, mergulhado numa crise económica de longa data e que a cada dia perde os seus costumes brandos, tão característicos da nossa cultura.
Efectivamente, na época dos descobrimentos fomos um povo de grandes Homens, corajosos e aventureiros que enfrentaram mares, tinham sede de descortinar novas civilizações, transportavam em si o sonho de serem donos e senhores do mundo, ignoravam o medo e morriam em nome da pátria. Seres que não se conformavam com o que tinham e queriam sempre mais, sonhavam alto e construíam uma escada que os levasse ao topo da realidade, sem medo de cair. Eram Homens, com força, garra e determinação. Construíram a nossa história da qual nos orgulhamos, marcaram em todo o mundo o rosto português.
Longe vão esses tempos, hoje pouco resta dessa determinação, há muito que não conhecemos o significado de vitória. Somos actualmente uma espécie de portugueses, vivemos com a nostalgia do passado, invejamos os feitos antes conseguidos, carregamos em nosso semblante uma carga enorme de fatalismo trágico. Tudo aquilo que um dia foi nosso á custa do sangue derramado dos nossos Homens, já não nos pertence. Fomos grandes no passado e no presente conformamo-nos ao sermos apelidados como a “cauda da Europa”.
É perceptível a todos nós, num simples passeio, observarmos o rosto fechado e cabisbaixo que cada cidadão mostra ao mundo exterior. Somos conhecidos pelo nosso pessimismo que nos impede de sermos grandes. Mas tudo á nossa volta nos guia ao fosso do desespero, á desgraça. Exemplo disso é o Fado, palavras cheias de dor e saudade que trazem até nós uma nostalgia incompreensível. A alma portuguesa grita ao passado, chora a dor do presente. Nasce aqui a saudade, aquela palavra intraduzível, mas sentida por todos os povos, no entanto só o português teve necessidade de a introduzir no seu vocabulário, para demonstrar mais uma vez o seu fatalismo trágico, a vontade de voltar ao passado e o medo do futuro.
Somos uma espécie de português, sem a alma dos outros tempos, aceitamos tudo o que temos e imitamos tudo o que gostávamos que fosse nosso. Esquecemos de partir á descoberta e de sermos únicos. Vivemos embalados pela ignorância e por mostrar aquilo que não temos nem somos. Personalidades fracas, falta de diálogo inteligente, ideias retrógradas e egoísmo inadmissível fazem de nós um país de outro mundo. Contudo, tantas críticas não nos afectam e continuamos a levar uma vida de luxo que não nos pertence, durante anos vivemos no sonho que éramos ricos e toda a gente tinha de estudar e ter formação académica. Uma crise mundial afecta-nos de uma maneira drástica e directa, mas a vida luxuosa continua, nem que seja para manter aparência, hoje fazer trabalhos menos reconhecidos não é para nós, mesmo que a nossa burrice seja muita merecemos sempre um cargo de director.
Não resisto a deixar de referir, que todos nós ignoramos as nossas origens, já não há patriotismo, apenas vergonha daquilo que construímos. Salvo raras excepções como é o caso do futebol, que estranhamente faz a voz levantar-se e gritar com toda a força o nome de Portugal, que abre baús e retira de lá a nossa bandeira e a pendura na varanda, mostrando todo o nosso orgulho em Portugal. Euro-2004, campeonato europeu de futebol que durante um mês acordou Portugal e fê-lo sonhar com a vitória, essa que acabou por não chegar e arrumou definitivamente com o pouco de patriotismo que ainda existia.
Infelizmente é este o cenário do nosso país, um povo conformista que não tem meios para avançar nem se preocupa em os criar, apenas vive no sonho que são grandes. Portugal já não existe, ficou no passado dos Descobrimento, hoje apenas existe uma espécie de Portugal.

2 comentários:

  1. Portugal, e os Portugueses, ficam perdidos no passado! Fomos um grande povo, possivelmente um dos países mais poderosos e ricos do mundo, mas esse tempo já passou... Perdemos tudo, quiçá por estupidez dos nossos governantes. Não sei... Somos um povo naturalmente saudosista, o que em si nem seria mau, pois ter saudades de bons tempos é algo natural do ser humano e saudável. O pior é quando devido a esse saudosismo ficamos presos no passado e esquecemos de viver o presente e preparar o futuro... E aí reside no grande problema do povo português. Tem saudades da glória do passado, mas não põe os olhos no fututo, não pensa "já fomos grandes e podemos lutar para o sermos novamente", mas antes "já fomos grandes..."... Reticências. É assim que termina o pensamento, umas infindáveis reticências...

    Bjx

    ResponderEliminar
  2. Nem todo o fado é triste! E sim, confrontamo-nos com os problemas que disseste, mas essa não é a unica realidade que vivemos... Tal como o fado, há mais que se lhe diga... ;)

    ResponderEliminar